sábado, 13 de outubro de 2012

Pai, descobri que você foi um baobá!


A primeira vez que soube da existência dos baobás, foi na leitura do livro o Pequeno Príncipe. Creio que boa parte dos brasileiros, também! Na minha memória vem a imagem do livro. Meu primeiro contato foi com um resumo realizado por minha primeira professora, Sra. Terezinha. Ela resumiu, copiou os desenhos e fez para cada aluno um exemplar mimeografado (Quem é jovem não conseguirá compreender: mimeógrafo é uma espécie de copiadora, na qual fazia-se o original numa matriz e as cópias, rodando uma manivela. Se procurar no oráculo Google deve-se encontrar alguma foto).

Voltando as minhas memórias, até hoje consigo ver o desenho do baobá: imponente com o principezinho olhando admirado. Muito anos depois, vi um baobá, ao vivo, em Natal. Naquele momento, não me lembrei do livro e nem me surpreendi com a imponência da árvore. Vi mais um no Rio Grande do Norte, em Nísia Floresta, mesmo assim não me causou grande emoção.

Hoje, estou na África, na província de Tete, em Moçambique e, por aqui, os baobás são em grande número e com um nome diferente: embomdeiro. Aqui me emocionei com a árvore! Por aqui são inúmeras! É imponente, resistente, com uma base enorme. Desde que cheguei aqui fotografei vários e descobri muita coisa sobre eles.

Além da frondosa sombra, os baobás, também fornecem a folha (calambe) e o fruto (malambe) para consumo humano. Pois é: saboreei um delicioso iogurte de malambe. Lembra o sabor do umbú.

Viajando pelas estradas de Tete e fotografando baobás, observei que as pessoas utilizam seu tronco como banco, praça para conversas, banca para venda de produtos, etc. Também extraem a casca do tronco para fazer lenha e retiram a fibra para fazer corda. Tem várias utilidades.

Hoje, no meu dia de descanso, passei o dia em frente a um belíssimo baobá e pensei muito no meu pai. Sempre que paro converso em pensamento com ele, pois fico imaginando o que ele diria das minha andanças por este país. Se fosse compará-lo com uma árvore, certamente seria um baobá: forte, frondoso, resistente, não tomba por pouca coisa. Meu pai era assim e buscou nos educar para sermos fortes, eu, meu irmão e minha filha (que, para ele, era filha também).

Quando criança, o via como um gigante: forte, expressão séria, mas com um sorriso franco. Juro que hoje vi o baobá sorrir pra mim e neste sorriso vi a franqueza, a firmeza de caráter e a felicidade em ser sombra e praça, ou seja, ter sempre pessoas ao seu redor.

Assim foi papai, um tronco forte, no qual pude me apoiar inúmeras vezes na vida. Mesmo quando fazia cara feia para as minhas asneiras, eu sentia que podia em recostar no seu tronco forte.

Assim como o baobá ele foi muito resistente a vida inteira. Lutou com a doença, resistiu o quanto pode, só tombou quando já não havia jeito. Tenho um orgulho muito grande em ser sua filha.

É, pai, você foi um baobá forte, que deu bons frutos. Fica em paz, pois teus malambes estão pelo mundo, fazendo, a partir do teu exemplo, o melhor que podemos em nossos trabalhos e com nossas famílias. Obrigada por tudo!

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