quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O despertar em Maputo: observações durante a ida ao trabalho

Bom dia a todos! Tenho contado algumas das coisas que vejo por aqui, mas hoje resolvi falar sobre o cotidiano. Quando falamos em outro continente, especialmente sobre a África, tudo parece muito distante e diferente do que conhecemos. De fato, temos algumas situações muito diferentes da realidade brasileira, mas, na maioria dos aspectos, é muito parecido.
Hoje saí mais cedo para ir ao trabalho e pude ver a 24 de julho acordando para o lindo dia de sol que se anuncia. O amanhecer aqui é belo como em todos os lugares. Como estamos no inverno, o sol só aparece após às 6h da manhã. Quando saí de casa, um vento frio me deu o primeiro bom dia, seguido do lindo céu azul e do sol em seu resplendor.
É curioso, mas aqui andamos com óculos escuros e roupas de frio. Bem, vamos aos fatos. Ao caminhar pela rua vejo as senhoras, enroladas em suas capulanas, a protegerem-se do frio. Em outro sítio, vejo as vendedoras de frutas a arrumar suas barracas para o início do dia de trabalho.
Pelas ruas caminham as empregadas domésticas indo ao seu local de trabalho. É fácil identificá-las, pois usam uniforme. Daquele tipo que vemos nas novelas. Andam pelas ruas sem nenhum problema.
 
 Também é comum vermos pelas ruas as mães com seus filhos presos às costas. Para isto usam a capulana, que é um tecido colorido com diversas utilidades: vestimenta, porta bebê, proteção para sentar no chão, xale, etc. A capulana é praticamente um símbolo nacional!
Muitos carros pela rua, a cidade vai acordando aos poucos. Ao chegar próximo das paragens (terminais) de autocarros (ônibus) e chapas (transporte alternativo), vejo pessoas a descer com pressa de seus transportes. O que choca aos visitantes é ver que muitos dos chapas são realizados por carros abertos, tipo cabine simples, e as pessoas vão sentadas no estrado do carro e a maioria viaja em pé, espremida em carros sem conservação. Surreal ao nosso olhar, mas é esta a realidade de boa parte dos habitantes desta cidade.
Neste caminhar, de início da manhã, ainda posso usar as calçadas, Conforme as horas vão passando as viaturas (carros) vão invadindo as calçadas, como se fossem pedestres. Por aqui é complicado caminhar nas calçadas: temos que disputar lugar com os carros e buracos. Com o tempo a gente se acostuma com a rotina de caminhar desviando dos obstáculos.
 
 
E assim vou chegando ao trabalho, numa pequena caminhada de 15 a 20 minutos tenho o prazer de observar a cidade com seus habitantes e sua rotina. Agora, subirei quatro andares (de escada) para iniciar mais uma jornada. Aos meus leitores, despeço-me a moda moçambicana: fiquem bem!

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Final de uma semana de trabalho: feliz feito pinto no lixo!

Essa seria a frase que diria a papai se pudesse falar com ele hoje, via Skype. Como não tem net e nem papai, usarei o blog: “Pai, ‘tô que nem pinto no lixo! Tive a felicidade de passar esta semana conhecendo uma das província de Moçambique: Gaza, cuja capital é Xai-Xai”.
Foi uma semana de aprendizagens. Justina Iva tinha razão: este é o meu pós-doutorado, em Educação e na vida! Vi de tido um pouco: urbanização, produções agrícolas, verdadeiros educadores heróis, interior, litoral e savana. É engraçado, sempre que penso em Savana me lembro das aulas de Geografia, só que nos meus livros, sempre haviam zebras. Por aqui não vi nenhuma, só fotos!

Pois é, agora já posso dizer que conheço mais um pouquinho da África e seu povo. Aliás, que povo simpática e colhedor! Fiquei completamente encantada com todos, em especial com as crianças do interior, são lindas! Olhos e sorrisos vivos apesar das adversidades, que são muitas. Soube que tem crianças que caminham de 15 a 20 quilômetros para irem a escola sem uma única refeição. Isto me doeu fundo. Sempre soube desta realidade, mas você olhar na cara da miséria é uma sensação estranha. Já vivenciei isto quando percorria o interior do nordeste brasileiro, mas parece-me que aqui é mais intenso. Nestes momentos é que percebemos o quanto temos!
Também tive a oportunidade de conhecer pequenos agricultores, em especial, mulheres e suas machambas (roçado). Conversei com uma dela a partir de um intérprete, pois ela não fala e nem entende o português, só conhece changana, uma das línguas da região sul do país. Fiz um vídeo da sua fala, não resisti! Depois fizemos uma foto. Como ela ficou feliz! Vou revelar e dar de presente quando voltar no próximo mês.
Uma outra curiosidade é a atração que sentem por ser fotografados! Em uma das escoas que fui, as crianças me perseguiam somente para sair nas fotos. Não consegui muitas fotos das crianças ao natural, pois quando me posicionava elas se viravam e colocavam aquele sorriso de foto! Muito engraçado! Os adultos também gostam muito. Algumas mulheres que estavam trabalhando na colheita pararam para ser fotografadas! Me senti no filme do Tarzan rsssss Praticamente a Jane!
Fora esta característica o restante é muito parecido com o Brasil de ontem e, infelizmente, ainda hoje: má distribuição de renda, escolas em condições precárias, estradas de terra, localidades sem energia elétrica e água encanada. Sobre a água tem um detalhe: nas escolas que visitei não há água encanada, serve-se de furos (poços) com bombas manuais para puxar a água e encher os baldes. Em outros locais a água vem dos rios e fica armazenada em depósitos plásticos com grandes capacidades. A população  se organiza e todos utilizam da água, um bem muito precioso por aqui!
Bem, amigos, como um blog não deve ter textos muito longos, vou deixá-los. Esta semana teremos muitas outras postagens, pois são muitas histórias para contar, minha e da Marisete, minha personal nutricionista, amiga e companheira de trabalho. Na próxima postagem irei privilegiar as fotos para que visualizem melhor minhas palavras.
Abraços e meus desejos de uma semana maravilhosa a todos.