É pai, nem eu nem você imaginamos que eu iria para tão longe! Quando me lembro da minha infância, me recordo de uma enciclopédia sobre os animais e
muitas vezes lemos (eu e meu pai) sobre os animais da África. Jamais imaginei que chegaria até aqui!
Hoje, após 45 dias de viagem, chego ao meu último destino desta primeira visita
de trabalho a Moçambique: o distrito de Macossa, na província de Manica. Foram
vários quilômetros, aproximadamente seis mil, percorridos por via aérea (até as capitais provinciais) e
via terrestre (até os distritos e escolas). Ao total, foram cinco províncias, dez
distritos e doze escolas foram visitadas. Entretanto o que vi, senti e ouvi não
tenho como mensurar!
Nas estradas, a caminhos de nossos destinos, tive a oportunidade de ver
muita coisa: paisagens verdes e áridas, povoações praticamente no meio do nada,
muitas pessoas (mulheres e crianças) a caminhar em busca de água, machambas
(roçados) produtivos, queimadas, escolas a beira da estrada, casas de alvenaria
e material local (caniço, barro, cobertura de palha ou chapas de zinco),
captação de água da chuva, etc. Comunidades familiares, com um marido com
várias esposas e inúmeros vivendo em uma pseudo harmonia. Conversei com uma
família deste estilo e eles falam com muita naturalidade sobre a poligamia!
Na verdade, para a decepção do Yan Maurício, só não vi leões! Os únicos
animais selvagens que vi estavam no Kruger Park, na África do Sul. Nos países
africanos, os animais selvagens ficam nas reservas, que são parques nacionais.
São muitas experiências e histórias para contar. Assim como no Brasil, em
Moçambique temos uma diversidade de climas, paisagens, hábitos e culturas. Há
uma grande diferença entre as regiões centro, norte e sul. A começar pelas
línguas locais. São tantas que fiquei perdida! Dos cidadãos mais velhos dos
distritos poucos falam português. Entendem, mas não falam. Durante os encontros
e reuniões tivemos que contar com intérpretes! Nas capitais isso não ocorre
Nelas, o português é mais falados, mas as línguas nacionais (assim são
conhecidas) também fazem parte do cotidiano da população.
Também existem enormes diferenças entre as capitais e os distritos. Parece
que mudamos de país a cada localidade. Nas capitais, a vida urbana em nada se
difere do que conhecemos, a não ser pelas mulheres com suas capulana e seus
filhos amarrados às costas. No mais: carros, comércio, crianças na rua,
pedintes, etc.
Quando chegamos aos distritos percebemos as diferenças, a iniciar pelas
moradias e pelas bichas (filas) de mulheres a esperar para bombear água e levar
às sus casas. Nos distritos o tempo é mais lento. Em muitos momentos me vinha a
memória a música Vilarejo, da Marisa Monte. Porém, na música a vida é mais
poética. Na prática, sinceramente, não vi poesia, mas sim muito trabalho e
sacrifício. Em alguns momentos me sentia no meio de um filme do Tarzam (Não o
desenho da Disney. Quem nasceu na década de 60 deve lembrar de ver filmes do
Tarzam na TV)!
Que povo forte e lutador! As condições de vida são precárias, localidades
sem água canalizada e sem energia elétrica, mas não se vê fisionomias de
desânimo! Incrível!
Uma coisa vi em comum nas escolas e distritos: a paixão das crianças em
serem fotografadas! É muito engraçado: bastam ver a máquina para iniciarem com
as poses e a perseguição (no bom sentido). Praticamente não consegui fazer
fotos ao natural, pois quando me viam, paravam o que estavam a fazer e ficavam
imóveis, a espera do clik da máquina. Quando ouviam, muitas corriam, felizes a
contar as outras! E, quando eu agradecia os sorrisos se abriam. São muito
lindas: negras como a noite, com os sorrisos brancos, iluminados e o olhar
vivo. Impossível não sair encantada com eles. Dá vontade de cuidar de todos: um
bom banho, boas roupas, sandálias para os pés descalços, etc. Meu lado maternal
ficou ainda mais aguçado!
Pois é, ainda tenho muita coisa para contar! Tentarei escrever um pouco
sobre cada região, mas para isto preciso voltar a Maputo para poder pesquisar
algumas das coisas que vi e poder contar a todos com seriedade. Afinal, o
objetivo deste blog é conversar com meu pai e meus amigos. Para tanto, é
necessário saber o que se fala!
Na próxima semana estarei de volta a capital do país que, agora, no meu
novo olhar, é um outro Moçambique, com um misto de África e Europa. Estou com
saudade das ruas e dos meus passeios pelos jardins. Voltarei com força total e
muita disposição para escrever. Volto ao trabalho de gabinete, agora conhecendo
a realidade do país para o qual estou ajudando a implementar um programa de
alimentação escolar.
Despeço-me ao jeito moçambicano: estamos juntos!
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