segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Domingo, 21 de outubro - Última parada: Macossa


É pai, nem eu nem você imaginamos que eu iria para tão longe! Quando me lembro da minha infância, me recordo de uma enciclopédia sobre os animais e muitas vezes lemos (eu e meu pai) sobre os animais da África. Jamais imaginei que chegaria até aqui! Hoje, após 45 dias de viagem, chego ao meu último destino desta primeira visita de trabalho a Moçambique: o distrito de Macossa, na província de Manica. Foram vários quilômetros, aproximadamente seis mil, percorridos por via aérea (até as capitais provinciais) e via terrestre (até os distritos e escolas). Ao total, foram cinco províncias, dez distritos e doze escolas foram visitadas. Entretanto o que vi, senti e ouvi não tenho como mensurar!

Nas estradas, a caminhos de nossos destinos, tive a oportunidade de ver muita coisa: paisagens verdes e áridas, povoações praticamente no meio do nada, muitas pessoas (mulheres e crianças) a caminhar em busca de água, machambas (roçados) produtivos, queimadas, escolas a beira da estrada, casas de alvenaria e material local (caniço, barro, cobertura de palha ou chapas de zinco), captação de água da chuva, etc. Comunidades familiares, com um marido com várias esposas e inúmeros vivendo em uma pseudo harmonia. Conversei com uma família deste estilo e eles falam com muita naturalidade sobre a poligamia!

Na verdade, para a decepção do Yan Maurício, só não vi leões! Os únicos animais selvagens que vi estavam no Kruger Park, na África do Sul. Nos países africanos, os animais selvagens ficam nas reservas, que são parques nacionais.

São muitas experiências e histórias para contar. Assim como no Brasil, em Moçambique temos uma diversidade de climas, paisagens, hábitos e culturas. Há uma grande diferença entre as regiões centro, norte e sul. A começar pelas línguas locais. São tantas que fiquei perdida! Dos cidadãos mais velhos dos distritos poucos falam português. Entendem, mas não falam. Durante os encontros e reuniões tivemos que contar com intérpretes! Nas capitais isso não ocorre Nelas, o português é mais falados, mas as línguas nacionais (assim são conhecidas) também fazem parte do cotidiano da população.

Também existem enormes diferenças entre as capitais e os distritos. Parece que mudamos de país a cada localidade. Nas capitais, a vida urbana em nada se difere do que conhecemos, a não ser pelas mulheres com suas capulana e seus filhos amarrados às costas. No mais: carros, comércio, crianças na rua, pedintes, etc.

Quando chegamos aos distritos percebemos as diferenças, a iniciar pelas moradias e pelas bichas (filas) de mulheres a esperar para bombear água e levar às sus casas. Nos distritos o tempo é mais lento. Em muitos momentos me vinha a memória a música Vilarejo, da Marisa Monte. Porém, na música a vida é mais poética. Na prática, sinceramente, não vi poesia, mas sim muito trabalho e sacrifício. Em alguns momentos me sentia no meio de um filme do Tarzam (Não o desenho da Disney. Quem nasceu na década de 60 deve lembrar de ver filmes do Tarzam na TV)!

Que povo forte e lutador! As condições de vida são precárias, localidades sem água canalizada e sem energia elétrica, mas não se vê fisionomias de desânimo! Incrível!

Uma coisa vi em comum nas escolas e distritos: a paixão das crianças em serem fotografadas! É muito engraçado: bastam ver a máquina para iniciarem com as poses e a perseguição (no bom sentido). Praticamente não consegui fazer fotos ao natural, pois quando me viam, paravam o que estavam a fazer e ficavam imóveis, a espera do clik da máquina. Quando ouviam, muitas corriam, felizes a contar as outras! E, quando eu agradecia os sorrisos se abriam. São muito lindas: negras como a noite, com os sorrisos brancos, iluminados e o olhar vivo. Impossível não sair encantada com eles. Dá vontade de cuidar de todos: um bom banho, boas roupas, sandálias para os pés descalços, etc. Meu lado maternal ficou ainda mais aguçado!

Pois é, ainda tenho muita coisa para contar! Tentarei escrever um pouco sobre cada região, mas para isto preciso voltar a Maputo para poder pesquisar algumas das coisas que vi e poder contar a todos com seriedade. Afinal, o objetivo deste blog é conversar com meu pai e meus amigos. Para tanto, é necessário saber o que se fala!

Na próxima semana estarei de volta a capital do país que, agora, no meu novo olhar, é um outro Moçambique, com um misto de África e Europa. Estou com saudade das ruas e dos meus passeios pelos jardins. Voltarei com força total e muita disposição para escrever. Volto ao trabalho de gabinete, agora conhecendo a realidade do país para o qual estou ajudando a implementar um programa de alimentação escolar.

Despeço-me ao jeito moçambicano: estamos juntos!
Última escola visitada nesta missão: EPC Nhamagua

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