sábado, 30 de junho de 2012

Pula a fogueira Iaiá, pula a fogueira Ioiô!

Arraiá Brasil-Moçambique: gaúcha, carioca, moçambicanos e baiana

Minha intenção era iniciar com algumas características de Moçambique, já iniciei o texto, mas precisa de uma revisão de fatos e datas históricas. Publicarei na próxima semana. Entretanto uma “noitada” me fez mudar o tema desta publicação. Para concluir o mês de junho, falemos sobre os festejos juninos. Apesar da colonização portuguesa, os festejos a Santo Antônio, São João e São Pedro não ocorrem por estas terras.
Quando a gente está fora do país sente falta das coisas mais simples. Como estamos no último dia do mês de junho, nada mais natural do que sentir falta de festa junina! Pois é, esta foi a minha estreia na noite moçambicana. Arraiá no Centro Cultural Brasil-Moçambique.
Nesta noite, brasileiros de várias regiões, se encontraram para lembrar os festejos juninos. Uma mistura de festas juninas: tocou Luiz Gonzaga, Elna Ramalho, Forró universitário, samba enredo, Leandro e Leonardo. Ainda bem que deixaram o Michel Teló de fora. Rsssss
Foi ótimo: uma mistura de sotaques e lembranças. Algumas pessoas vestidas a caráter, crianças de caipira correndo e brincando, comidas típicas brasileiras e muita caipirinha e quentão. Com direito a barraquinhas de brincadeiras para as crianças e aquelas brincadeiras de festa de escola: corrida no saco, corrida com ovo e dança com laranja. Também tivemos quadrilha improvisada. Tudo com o bom jeitinho brasileiro. Teve até Hino Nacional em ritmo de forró. Muito bom!
Como uma formiga assumida, enfiei o pé na jaquinha dos doces. Amanhã farei mais tempo de esteira (aqui chamado de tapete) para compensar os deslizes.
No meio da festa vários amigos moçambicanos que estudaram no Brasil também estavam por lá matando as saudades da nossa terra. Além destes haviam outros convidados moçambicanos confraternizando conosco. A estes tivemos que explicar um pouco das tradições brasileiras nesta época do ano.
E eu que pensei não ter São João neste ano, me surpreendi! Foi uma noite super legal! Tenho certeza de que papai iria adorar esta história.
Até a próxima!


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Este blog tem uma história e toda história tem um começo...

Nivaldo, flamenguista com saúde, pois "doentes são os outros". Fevereiro, 2005

Maputo, 18 de maio de 2012, 17h (horário do Brasil): Fiz uma ligação para minha mãe. Ela me atendeu falando entre lágrimas: Daisy, o teu pai está morrendo!

Ao ouvir esta frase, senti um soco no estômago! Meu pai morrendo… Mesmo sabendo ser esta uma certeza, nunca imaginei seriamente esta possibilidade.
Imediatamente vieram em minha mente imagens da minha infância. Meu pai: aquele homem grande e forte segurando a minha mão e me levando para a casa da vovó Maria, pois minha mãe havia ido ao hospital para ganhar neném (meu irmão). Lembro-me muito bem daquele dia: eu e ele descendo a rua, chovia fino e fiquei olhando um filete de água que descia rua junto com nós dois. Como me sentia segura, pois meu pai estava me protegendo.
Depois ele foi comigo até o hospital. Como ainda não tinha 3 anos, não pude entrar. Ele ficou comigo no pátio e minha mãe surgiu na janela para me ver. Parece que foi ontem.
Anos mais tarde, lembro-me de papai com um filho em cada mão, levando para brincar na pracinha do bairro. Pois é… naquele tempo dava para brincar na pracinha do bairro. Brincávamos com areia e papai nos ensinou a brincar no balanço. Adorava quando ele me balançava bem alto. Entretanto ele queria que eu aprendesse a brincar sozinha e brigava comigo. Hoje entendo que aquelas broncas tinham como objetivo me tornar uma pessoa independente. Ele conseguiu!
Depois da manhã de brincadeiras chegava o momento de voltarmos para casa, não sem antes entrar na padaria São Thiago para comprar uma barra de chocolate para cada um. É, meu pai tinha isso: o que fosse para um seria para o outro, só mudava a cor: rosa para mim e azul para meu irmão.  
São muitas as lembranças. Papai tinha uma teoria pedagógica mesmo sem ser professor por formação. Acreditava ser importante proporcionar o máximo de boas experiências na infância. Com isto sempre se preocupava em levar-nos a pracinha para brincar e fazíamos muitos passeios: museus, parques, concertos, zoológico e todas as alternativas que o Rio de Janeiro podia oferecer naquela época. Apesar de ter sido criada no subúrbio, minhas lembranças de infância estão muito ligadas ao Aterro do Flamengo. Como brinquei naqueles parques! Tinha por lá uma miniatura de cidade para crianças e sempre gostei de ir para lá.
Recordo-me de ficar brincando e sempre de olho no papai. Ele sempre sentado num banco escutando o jogo de domingo num radinho de pilha. Não dá para pensar no papai sem lembrar do radinho de pilha. Era quase como uma marca registrada. Rsssss
Este era o Sr. Nivaldo: uma pessoa de princípios e com regras rígidas, um pai presente, que cobrava de nós responsabilidade e respeito ao próximo e as coisas públicas. Uma pessoa que gostava de estar bem informada, lia muito e estava atento aos acontecimentos no Brasil e no mundo. Com isto ganhou, de uma amiga minha, um apelido que muito se assemelhava a ele: professor de história. Gostava de ler biografias e tinha uma memória espantosa para fatos e pessoas.
Daí o título do blog. Sempre que vejo algo por aqui tenho vontade de contar a ele, pois sei que ficaria muito interessado. Sempre ocorria isto nas minhas viagens: ele ficava ansioso para minha chegada para conversarmos sobre o que mais havia me impressionado. Agora que já não o tenho mais fisicamente perto de mim, ficam as palavras presas no pensamento…
Para que não tenha as memórias somente para mim decidi conversar com meu pai através do PC. Espero que nossas conversas sejam interessantes a quem for ler, afinal, quam escreve sempre busca alcançar o leitor.
Boa leitura a todos

domingo, 24 de junho de 2012

Para início de conversa

OIá amigos

Desde que fui selecionada para trabalhar em Moçambique muitas pessoas me pediram para registrar tudo e socializar com todos. Várias ideias surgiram: caderno de campo, fotografias, e-mails, Facebook. A melhor maneira que conheço para alcançar os amigos espalhados pelos estados brasileiros e pelo mundo é um blog.
A ideia do blog vem amadurecendo aos poucos. Como vocês sabem poucos dias depois da minha chegada meu pai faleceu. Estes primeiros dias foram difíceis, não tinha vontade para nada. Dediquei-me ao trabalho para não pensar muito. Deu certo! A dor maior foi embora. Ficou a saudade. Enorme! Sempre que acontece alguma coisa curiosa ao meu olhar me lembro dele e fico triste por não poder contar. Fico imaginando as conversas no Skype: ele me perguntando muita coisa e me explicando as que soubesse. Para quem não sabe, meu pai gostava muito de ler e era super bem informado!
Daí o nome do blog: conversas com meu pai. Neste espaço pretendo tecer meus comentários acerca deste país no qual passarei mais onze meses. Será a minha maneira de aliviar a saudade e de continuar a conversar com meu pai.
Espero, com isto, ficar mais próxima dele e dos meus amigos tão queridos e dos quais estou morrendo de saudades.
Agora vou ter que parar, os olhos estão cheios de lágrimas e já não enxergo bem.
Fiquem em paz!